quarta-feira, dezembro 28, 2005

A ORGANIZAÇÃO DO TREINO EM FUTSAL – PARTE 2


A ORGANIZAÇÃO SEMANAL DO TREINO EM FUTSAL

Exemplo da Organização de um Microciclo para 4 Unidades de Treino

• Sábado – Jogo
• Domingo – Folga
• Segunda – Recuperação activa e proprioceptiva dos jogadores
• Terça – “Pano de Fundo” – capacidade motora/Força/Jogos Reduzidos
– Princípios específicos de jogo ofensivo e defensivo.
– Pressão e circulação de bola
• Quarta – “Pano de Fundo” – capacidade motora/Resistência – Treino em espaços alargados – circulação de bola e pressão organizada; combinações ofensivas simples; formas jogadas com o objectivo de desenvolver os aspectos ofensivos, defensivos e equilíbrios (transições)
• Quinta – “Pano de fundo” – capacidade motora/velocidade – acções intensas com oposição mas temporalmente curtas: combinações na vertente dos grandes princípios do jogo ofensivo e defensivo
Trabalho técnico e estratégico. Trabalho sobre pequenos princípios do jogo ofensivo e defensivo. Definição de zonas de pressão, livres, cantos e lançamentos de linha lateral.

São necessárias cerca de 72 horas para recuperar de um jogo normal no nível dos jogadores não profissionais no nosso futsal (salvaguardo aqui as equipas profissionais).

Se jogamos ao sábado, o treino na quarta-feira dever ter uma forma mais intensa e específica desde o início da época.

No segundo treino da semana ainda se faz recuperação em força geral de forma explosiva (saltos a pés juntos com mudança de direcção, pequenos sprints de 3-5 mts e ficar parado em períodos de 3 a 5 segundos).

Os que não jogaram realizam um trabalho de transformação da força (força para situações jogadas) exercícios de alta intensidade em espaços reduzidos ( 3x3 – 20x20 mts). Os outros realizam situações de posse de bola com muitos deslocamentos.

Nesse treino (2º dia), trabalho muito táctico e com muitas paragens, muita comunicação.

No terceiro dia o treino é dedicado à aproximação ao jogo formal, em espaços codificados, mesmo que com condicionantes nas formas jogadas (a 2 toques; 2 toques no ½ campo defensivo e livre no ½ campo ofensivo, etc…);

No quarto dia de treino, totalmente táctico virado para o jogo seguinte, jogos de passe e situações de posse de bola com o grupo todo junto num espaço muito curto, com oposição passiva. Exemplo: Quadrado 20x20 mts – 6x6 – 3 períodos e depois 15’ tácticos com 5x0. Finalização, através de situações analíticas e em contexto táctico-técnico;

Os primeiros dois dias de treino são treinos aquisitivos, aproveitando-se para identificar a matriz que se pretende para o jogo concreto. Prolonga-se o treino (esforços de intermitências máximas) mais do que o próprio jogo, partindo-o, fraccionando-o. São dedicados à definição da forma de jogar da nossa equipa.
Treinam-se aqui os grandes princípios:
Organização defensiva – transição defesa/ataque e transição ataque/defesa;
Os pequenos princípios como por exemplo o último passe e finalização treinam-se nos outros dias.

Nas paragens do campeonato torna-se importante manter a estrutura dos microciclos antecedentes.

A ORGANIZAÇÃO DO TREINO EM FUTSAL – PARTE 1


Neste e nos próximos artigos tentarei abordar alguns temas diversos que penso influenciam de forma decisiva o rendimento das nossas equipas e jogadores. Liderança e Comunicação do treinador; Organização do Microciclo; A Correcção dos erros; Especificidade do Treino; Regras para a realização de uma Unidade de Treino; Planificação da Unidade de Treino ou Dossier do Treinador, serão aspectos da organização do treino em futsal que abordarei a partir da minha experiência pessoal e da recolha bibliográfica efectuada. Dada a necessária rentabilização do espaço não serão feitas referências bibliográficas, as quais serão disponibilizadas a quem as solicitar.
Espero que consiga contribuir para um treino de melhor qualidade.

ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA LIDERANÇA E COMUNICAÇÃO NO TREINADOR

O treinador é uma personagem fundamental do processo desportivo e desempenha pelo seu exemplo e tipo de intervenção, um papel fundamental junto dos praticantes, dos pais e dos dirigentes. A atitude que assume, a forma como intervém, como transmite conhecimentos, como reage às situações e como se relaciona com todos os intervenientes no fenómeno desportivo depende do modo como perspectiva a sua participação e a das crianças e jovens na prática desportiva. E tudo passa fundamentalmente pela atitude face à vitória e à derrota. A vitória não pode ser o objectivo exclusivo nem o único critério de êxito.
Os praticantes, especialmente crianças e jovens, são facilmente influenciados pelos adultos nos seus hábitos, atitudes e comportamentos.
A relação treinador-praticante não se resume a uma mera transmissão e recepção de informação, mas constitui uma interacção dinâmica, recíproca, por vezes conflituosa, de pensamentos, opiniões, sentimentos e emoções. É no treinador que recai a responsabilidade de criar as condições essenciais ao desenvolvimento da comunicação, devendo:
a) - Diagnosticar o nível de desenvolvimento dos praticantes e escolher e usar com oportunidade e flexibilidade os diferentes estilos de liderança (directivo delegação, apoio e encorajamento):
- tratando de forma diferenciada praticantes que se encontram em níveis de desenvolvimento diferentes;
- considerar que em diferentes tarefas o mesmo praticante pode apresentar níveis diferentes de desenvolvimento.
- considerar que um determinado estilo de liderança que seja adequado para um praticante num determinado momento, poderá ser mais tarde inadequado;
b) - Facilitar e incentivar a expressão dos praticantes:
- ouvir com atenção e de forma activa;
- evitar interromper o interlocutor;
- evitar a tendência para responder emocionalmente
c) - Usar com critério o elogio e a repreensão.

O elogio é a chave para a formação e desenvolvimento dos praticantes (DOIS OLHOS NO QUE FAZEM BEM E MEIO OLHO NO QUE FAZEM MAL), a repreensão é um instrumento para lidar com problemas de atitude e motivação.
Para usar bem os elogios e as repreensões é necessário ser breve, ser específico, ser sincero, estimular o indivíduo.
No uso das repreensões, existem ainda alguns aspectos particulares que importa acentuar:
- fazer as repreensões de acordo com o nível de desenvolvimento dos praticantes;
- a segunda parte de uma repreensão deve ser um elogio, mostrando ao visado que o comportamento pode não ser bom mas a pessoa é;
- repreender em cima do acontecimento;
- mostrar interesse sincero pela pessoa que se repreende;
Uma das coisas que mais marca um ser humano, criança ou adulto, é perder o afecto, a consideração, a atenção e o reconhecimento de outros seres humanos, especialmente daqueles que desempenham na sua vida um papel significativo. Quando as crianças e jovens sabem que o seu valor como pessoa para a sua família, treinador e dirigente, não depende da sua performance nos desportos, sentem-se confiantes e desenvolvem atitudes positivas sobre a sua participação na prática desportiva.

A CORRECÇÃO DOS ERROS

Para acelerar a aprendizagem o jogador necessita saber o que está a fazer correctamente e os erros que está a cometer. Por isso é para ele fundamental receber, sobre esses aspectos, informações dadas "a tempo" e de forma apropriada, designados feed-backs (informação de retorno). Para corrigir o treinador tem necessidade, em primeiro lugar, de conhecer as técnicas que vai ensinar. O conhecimento das técnicas traduz-se em:
- em saber distinguir as várias partes que a constituem;
- saber quais são os seus pontos fundamentais (componentes criticas);
- saber quais são os desvios de execução mais comuns e as causas respectivas;
- saber quais as correcções essenciais que deve fazer.
Quando um jogador está a cometer vários erros é melhor corrigir um de cada vez, dando informação suficiente mas sem o sobrecarregar. É indispensável identificar a causa do erro, para que a correcção seja ajustada a evitar a transmissão de feed-back errado ou inadequado. Para acelerar a aprendizagem, o jogador deve receber feed-backs úteis (específicos) de forma frequente e suficientemente cedo, fornecendo indicações sobre como a execução pode ser melhorada.
Os erros podem ocorrer porque o jogador não sabe como executar uma técnica, isto é, ainda não desenvolveu o programa motor correcto (erros de aprendizagem); mas podem também ocorrer em atletas que já dominam a técnica, mas por falta de atenção ou motivação, não se concentram numa determinada parte daquela, consistindo neste caso a remediação, em levar o jogador a concentrar-se nessa parte, relembrando-a.