quarta-feira, dezembro 28, 2005

A ORGANIZAÇÃO DO TREINO EM FUTSAL – PARTE 1


Neste e nos próximos artigos tentarei abordar alguns temas diversos que penso influenciam de forma decisiva o rendimento das nossas equipas e jogadores. Liderança e Comunicação do treinador; Organização do Microciclo; A Correcção dos erros; Especificidade do Treino; Regras para a realização de uma Unidade de Treino; Planificação da Unidade de Treino ou Dossier do Treinador, serão aspectos da organização do treino em futsal que abordarei a partir da minha experiência pessoal e da recolha bibliográfica efectuada. Dada a necessária rentabilização do espaço não serão feitas referências bibliográficas, as quais serão disponibilizadas a quem as solicitar.
Espero que consiga contribuir para um treino de melhor qualidade.

ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA LIDERANÇA E COMUNICAÇÃO NO TREINADOR

O treinador é uma personagem fundamental do processo desportivo e desempenha pelo seu exemplo e tipo de intervenção, um papel fundamental junto dos praticantes, dos pais e dos dirigentes. A atitude que assume, a forma como intervém, como transmite conhecimentos, como reage às situações e como se relaciona com todos os intervenientes no fenómeno desportivo depende do modo como perspectiva a sua participação e a das crianças e jovens na prática desportiva. E tudo passa fundamentalmente pela atitude face à vitória e à derrota. A vitória não pode ser o objectivo exclusivo nem o único critério de êxito.
Os praticantes, especialmente crianças e jovens, são facilmente influenciados pelos adultos nos seus hábitos, atitudes e comportamentos.
A relação treinador-praticante não se resume a uma mera transmissão e recepção de informação, mas constitui uma interacção dinâmica, recíproca, por vezes conflituosa, de pensamentos, opiniões, sentimentos e emoções. É no treinador que recai a responsabilidade de criar as condições essenciais ao desenvolvimento da comunicação, devendo:
a) - Diagnosticar o nível de desenvolvimento dos praticantes e escolher e usar com oportunidade e flexibilidade os diferentes estilos de liderança (directivo delegação, apoio e encorajamento):
- tratando de forma diferenciada praticantes que se encontram em níveis de desenvolvimento diferentes;
- considerar que em diferentes tarefas o mesmo praticante pode apresentar níveis diferentes de desenvolvimento.
- considerar que um determinado estilo de liderança que seja adequado para um praticante num determinado momento, poderá ser mais tarde inadequado;
b) - Facilitar e incentivar a expressão dos praticantes:
- ouvir com atenção e de forma activa;
- evitar interromper o interlocutor;
- evitar a tendência para responder emocionalmente
c) - Usar com critério o elogio e a repreensão.

O elogio é a chave para a formação e desenvolvimento dos praticantes (DOIS OLHOS NO QUE FAZEM BEM E MEIO OLHO NO QUE FAZEM MAL), a repreensão é um instrumento para lidar com problemas de atitude e motivação.
Para usar bem os elogios e as repreensões é necessário ser breve, ser específico, ser sincero, estimular o indivíduo.
No uso das repreensões, existem ainda alguns aspectos particulares que importa acentuar:
- fazer as repreensões de acordo com o nível de desenvolvimento dos praticantes;
- a segunda parte de uma repreensão deve ser um elogio, mostrando ao visado que o comportamento pode não ser bom mas a pessoa é;
- repreender em cima do acontecimento;
- mostrar interesse sincero pela pessoa que se repreende;
Uma das coisas que mais marca um ser humano, criança ou adulto, é perder o afecto, a consideração, a atenção e o reconhecimento de outros seres humanos, especialmente daqueles que desempenham na sua vida um papel significativo. Quando as crianças e jovens sabem que o seu valor como pessoa para a sua família, treinador e dirigente, não depende da sua performance nos desportos, sentem-se confiantes e desenvolvem atitudes positivas sobre a sua participação na prática desportiva.

A CORRECÇÃO DOS ERROS

Para acelerar a aprendizagem o jogador necessita saber o que está a fazer correctamente e os erros que está a cometer. Por isso é para ele fundamental receber, sobre esses aspectos, informações dadas "a tempo" e de forma apropriada, designados feed-backs (informação de retorno). Para corrigir o treinador tem necessidade, em primeiro lugar, de conhecer as técnicas que vai ensinar. O conhecimento das técnicas traduz-se em:
- em saber distinguir as várias partes que a constituem;
- saber quais são os seus pontos fundamentais (componentes criticas);
- saber quais são os desvios de execução mais comuns e as causas respectivas;
- saber quais as correcções essenciais que deve fazer.
Quando um jogador está a cometer vários erros é melhor corrigir um de cada vez, dando informação suficiente mas sem o sobrecarregar. É indispensável identificar a causa do erro, para que a correcção seja ajustada a evitar a transmissão de feed-back errado ou inadequado. Para acelerar a aprendizagem, o jogador deve receber feed-backs úteis (específicos) de forma frequente e suficientemente cedo, fornecendo indicações sobre como a execução pode ser melhorada.
Os erros podem ocorrer porque o jogador não sabe como executar uma técnica, isto é, ainda não desenvolveu o programa motor correcto (erros de aprendizagem); mas podem também ocorrer em atletas que já dominam a técnica, mas por falta de atenção ou motivação, não se concentram numa determinada parte daquela, consistindo neste caso a remediação, em levar o jogador a concentrar-se nessa parte, relembrando-a.