terça-feira, setembro 28, 2004

SÓ JOGAMOS AQUILO QUE TREINAMOS OU ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE OS JOGOS DA ACADÉMICA NO II MEMORIAL JORGE ANJINHO

Faz-me um participante neste espaço o desafio de tecer alguns comentários à forma como a Académica jogou no último fim-de-semana, nomeadamente na final, no jogo com o Belenenses.
Não vou aqui fazer qualquer comentário individual, já que esses como compreenderão guardo-os para as conversas com os meus jogadores e equipa técnica, mas não me vou furtar a alguns comentários sobre o desempenho colectivo da equipa.
Há pouco mais de oito dias tínhamos participado no Pavilhão do Belenenses no jogo de apresentação deste clube com um resultado nada interessante para nós, uma derrota por 8-3. Já nessa altura sabíamos que este resultado não traduzia a diferença entre as equipas, uma vez que tínhamos sofrido durante a 1ª parte, dois golos de livre de 10 mts; 1 de grande penalidade e 2 de erros defensivos anormais nossos. Ou seja chegámos ao intervalo com um resultado de 5-2 enganador. Por outro lado tínhamos introduzido na semana anterior (porque estávamos a 2 semanas do início do campeonato) algum trabalho de maior intensidade (anaeróbio aláctico e láctico) ao nível da velocidade, o que aumentou os nossos níveis de cansaço, normais afinal para um início de época e porque o nosso verdadeiro teste, seria na realidade o nosso Torneio uma semana depois, com um jogo de manhã e outro de tarde, os quais testariam a consistência da nossa equipa a todos os níveis, já que encontrávamos pela frente duas equipas fortes.
Nesse sentido na semana passada ( a duas semanas do campeonato) o nosso trabalho incidiu na consolidação do trabalho de elevada intensidade; na melhoria da capacidade de finalização e contínua tarefa de melhorar a fase defensiva do nosso jogo. Neste sentido trabalhámos toda a semana a melhoria do nosso jogo defensivo na linha 3, já que sendo eficazes na linha 2, tínhamos alguns problemas quando jogávamos mais atrás. Para ganhar o torneio e especificamente ao Belenenses tornava-se necessário roubar o espaço de jogo ofensivo deles no nosso meio-campo, já que esta equipa tem uma circulação de bola muito rápida e uma manutenção de posse de bola eficaz, protagonizada por jogadores experientes e de bom nível, de preferência no meio-campo adversário. Foi isto que trabalhámos toda a semana. É sobre a especificidade do jogo e das suas fases que trabalhamos sistematicamente (ataque-defesa-transição defensiva-transição ofensiva) todo o ano, desde o primeiro dia de treino. Trabalhamos de forma integrada sobre aquilo a que chamamos de Treino Cognitivo. Foi isto que fizémos. Depois do trabalho desta semana, testámos isto mesmo no sábado na Equipa "B" no jogo com o Gatões (Camp. Distrital 1ª Divisão) com bons resultados (5-1). E continuámos a trabalhar este posicionamento na linha 3 defensiva no jogo da manhã do Torneio com o Atlético CP. Com o resultado ao intervalo em 0-0, tinha a certeza que tinha resultado o trabalho que tínhamos vindo a fazer anteriormente, mas o Atlético não era suficientemente ofensivo e nem arriscava tanto na pressão sobre nós. Dessa forma entrámos para a segunda parte a jogar como "gostamos" mais; zona pressionante alta, ou seja a designada linha 2. Embora tivéssemos sofrido dois golos de contra-ataque, dominámos o jogo e porque estávamos melhor fisicamente também, ganhámos o jogo com normalidade.
Ao fim da tarde o jogo da final. O Belenenses como esperávamos alternou zona pressionante alta (linha 2) com zona pressionante média(linha 3) defensivamente e quando no ataque, preferencialmente fê-lo em ataque posicional. Contra isso utilizámos o que já referi. Zona pressionante média (linha 3) com marcação individual ao pivot quando existia. O Belenenses não encontrou espaço nas nossas costas e tinha dificuldades de penetração ofensiva. Utilizando uma grande concentração e entreajuda a Académica saía para o ataque, através de transições rápidas pelas alas, principalmente na segunda parte ou através de um ataque posicional com passes para o "pé" do colega e não para o espaço, o que reduziu as nossas perdas de bola no ataque, trocando os jogadores em função dos interesses da equipa naquela fase do jogo (para melhorar a circulação da bola; para aumentar a capacidade defensiva da equipa; para aumentar a velocidade de transição defesa-ataque). Para contrariar tudo isto o Belenenses tinha que recorrer à falta e à sexta falta do adversário fizémos o único golo do jogo. Num jogo de bom nível, equilibrado e bem disputado ganhou a equipa que fez exactamente aquilo para que trabalhou durante a semana. Um abraço. Espero que sejam úteis estes comentários para quem anda no futsal.