quinta-feira, setembro 23, 2004

FUTSAL DA ACADÉMICA - RENASCER DAS CINZAS

Solicitou-me o Ricardo Santos que escrevesse um artigo de opinião sobre o projecto do futsal da AAC e do projecto que coordeno desde as últimas dez jornadas da época 2002-2003. Mas para falar do projecto, do sucesso da última época, que recolocou a Académica na 2ª Divisão Nacional torna-se imperioso falar do que era a Académica quando chegámos. Era uma Académica que ia fechar as portas, com 5 jogadores da equipa sénior, 15 jogadores dos juniores do futebol de 11 para escolher alguns para terminar a época e 7/8 jogadores da equipa de futsal júnior. A equipa, comigo, já ia no terceiro treinador nessa época e alguns dos principais jogadores do plantel tinham deixado de jogar. Era uma equipa sem auto-estima e a maior parte dos jogadores tinham várias expulsões ao longo da época, numa equipa que se pautava pela indisciplina e que nas suas últimas duas épocas, salvo erro, lutou para não descer até à última jornada. Os directores, apesar da sua boa-vontade e persistência em levar o "barco a bom porto" não sabiam como e diziam-me que o melhor era mandar a maior parte dos jogadores embora e ir buscar outros. Tínhamos uma equipa desfeita e indisciplinada. Quando no final desta época felizmente de sucesso, vejo algumas pessoas que por cá passaram, colocarem-se em bicos dos pés para dizer que tiveram alguma coisa a ver com o que esta equipa fez esta época, farto-me de rir, já que apenas encontrámos um grupo de jogadores que de equipa nada tinha, sem modelo de jogo, sem muitos deles dominarem os princípios fundamentais do jogo. Jogavam como saía e a mais não eram obrigados. Esta era a realidade, nua e crua, doa a quem doer. Custe ouvir a quem custar. Acredito no trabalho e na minha capacidade e da minha equipa técnica, mas não somos milagreiros. Doze pontos em vinte jogos eram o que havia quando entrámos. Fizemos salvo erro vinte e dois pontos nos dez jogos que faltavam. Com essa média no resto da época a Académica teria subido à 1ª Divisão. Não foi suficiente, mas ganhámos o embrião de uma equipa e a nova época começou logo aí a ser preparada, já que nos mantivemos a treinar e a ganhar tempo até Julho. O jogo com o Sporting de final de época (em que perdemos por 3-1) deu-nos indicações que estávamos no bom caminho. Sabia que era arriscado vir para a Académica naquela altura, como foi, mas também sei que esta Académica tem potencial humano, que com a persistência e a capacidade da equipa técnica poderíamos dar a volta. Liderança, disciplina, organização, trabalho e competência foram os parâmetros introduzidos. Acreditámos nos jogadores que tínhamos, nos que quiseram voltar e acreditar no projecto, nos que tinham subido dos juniores, nos que fomos buscar aos distritais ou em jogadores que já conhecíamos. Com todos, equipa técnica (treinadores e massagista), dirigentes que resistiram, seccionistas e jogadores, formámos uma equipa no verdadeiro sentido da palavra. Ao longo deste tempo, habituei-me a respeitar a competência do Rogério, o esforço do Júlio e do Simões, a competência dos meus colegas treinadores, Arlindo, Hugo, Paula, Victor, Sol e Felipe, recentemente reforçados pelo Bruno, Albano e João Simões. Habituei-me a ver para além dos problemas, o esforço dos dirigentes, Artur Cordeiro, Fernando Freire e Miguel Fonseca para tentarem resolver problemas. A Académica cumpriu escrupulosamente as suas obrigações para com os seus praticantes e isso nos dias de hoje é importante. Dá credibilidade. Habituei-me a ver e a respeitar (mesmo quando não concordam com as opções do treinador) um pequeno grupo de amantes do futsal da Académica, desculpem-me os restantes, encabeçados pelo Ladeira. Pelo meio ficaram problemas e conflitos que resolvemos e demos a cara. Na Académica tem que existir competência para que todos acreditem no projecto. As equipas não podem estar entregues a gente sem qualificação. Nem todos cabiam neste trabalho e nunca estiveram em causa as pessoas em si, mas sim a sua competência para a função, fossem dirigentes, treinadores ou jogadores. Estamos a meio de um projecto e disponíveis para o levar até ao fim. Com as pessoas em que acreditamos. Hoje somos todos de facto uma verdadeira EQUIPA, onde emerge um conjunto fantástico de jogadores com os quais me dá um prazer imenso trabalhar e a quem eu auguro para alguns um futuro brilhante no futsal nacional. De uma coisa eu estou certo. No dia em que sair da Académica sairei de consciência tranquila. A Académica tem mais de vinte jogadores nos seniores, com bom nível e com uma média de idades de 22 anos. Tem talentos em crescimento nos escalões de formação e equipas em todos os escalões. Os jogadores da Académica dominam os princípios do jogo, existe um modelo de jogo determinado e foi recuperada a auto-estima de toda a gente. Hoje é atraente jogar na Académica e foi recuperado o estatuto de clube mais representativo do Distrito de Coimbra. Está na Associação Académica de Coimbra provavelmente a equipa técnica mais qualificada da região, ambiciosa e competente. Gente mais ou menos jovem, dez treinadores com formação específica ou licenciados em educação física ou ambas as coisas, garantem o futuro do projecto. Saibam estimá-los, respeitá-los e dar-lhes condições de trabalho, minímas, que não somos muito exigentes. È na Académica que um conjunto de pessoas ocupa o seu tempo livre e o que não tem livre, de segunda a domingo, dezenas de horas por semana, milhares por ano. È a nossa segunda casa, às vezes a primeira, tal o tempo que lhe dedicamos. Fazemo-lo, equipa técnica, dirigentes e jogadores na sua maioria, a troco de uma palmada nas costas que muitas vezes nem surge, mas lá continuamos todos os dias. Porque gostamos do futsal e da Académica. Por que somos todos um pouco loucos. Porque acreditamos em nós e no trabalho que somos capazes de fazer. Enquanto nos deixarem e se nos deixarem sabemos que alcançaremos as nossas metas. E os únicos que nos podem parar estão dentro de nós. Os nossos adversários da região não nos preocupam. Que sejam muito felizes. Que se preocupem com o seu trabalho e não com o nosso. Se necessitarem de ajuda que não colida com os interesses da Académica, estaremos sempre disponíveis para ajudar. Só a evolução dos outros nos fará também mais fortes. O Projecto, como lhe chamam, são todas as pessoas que estão na Académica e aquelas que a nós se quiserem juntar e demonstrem competência para isso. São as pessoas que fazem a diferença, de preferência pessoas competentes. Os projectos, são assim pessoas que de forma organizada, trabalham para objectivos e metas comuns. É assim na Académica e em qualquer lado. Por isso mesmo o Projecto que fez a Académica renascer das cinzas tem rostos, nomes e como numa família existem problemas, conflitos, diferenças de opinião. Mas todos sabemos para onde queremos ir e por isso somos solidários entre todos, qualquer que seja o papel que cada um desempenhe. Uma equipa afinal à qual me orgulho em pertencer. Quando afinal o Ricardo me pediu para contar o segredo do Projecto Académica, ri-me outra vez, é que ele ainda não percebeu que também ele de forma indirecta pelo seu trabalho de divulgação do futsal, tem contribuído para o seu sucesso. TRABALHO-LIDERANÇA-DISCIPLINA-ORGANIZAÇÃO-COMPETÊNCIA, é este o segredo da Académica. Ao alcance de todos aqueles que se dediquem tanto como nós. Um grande abraço para a família do futsal, mesmo para aqueles que de vez em quando tentam denegrir a minha imagem e o meu trabalho. Também eles contribuem para nos tornarmos mais fortes e mais coesos e para me fazerem perceber que vamos conseguindo transformar alguma coisa. Senão fizéssemos nada, não se preocupariam connosco. BOA ÉPOCA PARA TODOS!