sexta-feira, novembro 14, 2008

PORQUE NÃO PODEMOS ESPERAR MAIS QUATRO ANOS?

É fácil criticar e afirmar que o Campeonato do Mundo no Brasil foi um fracasso da Selecção Nacional e da sua equipa técnica… E que daqui a 4 anos logo se vê se fazemos melhor.
Não ouvi foi ninguém criticar a própria federação e a sua estrutura… ou a falta dela para o futsal.
Há luz dos resultados, muitos foram os que às claras ou em surdina teceram críticas ao trabalho efectuado; aos jogadores convocados, a isto ou aquilo.
Falta fazer a reflexão que eu esperava que acontecesse por iniciativa de alguém com responsabilidades na federação, num órgão de comunicação, sei lá no seio dos treinadores, alguém com responsabilidades…
Estranhamente ninguém o fez até agora para que todos pudéssemos reflectir seriamente sobre as verdadeiras razões, as razões estruturais que levaram a que a selecção nacional não tivesse sucesso na última competição internacional em que participou.
A Selecção Nacional faz parte do Sistema desportivo que é a FPF e significa o conjunto de todos os praticantes e de todos os serviços desportivos que a nossa federação desenvolve. Em consequência, os resultados e o trabalho de uma Equipa Nacional tem que ser considerado como o produto do próprio sistema desportivo... A FPF afinal. E em definitivo, afirmaremos que o sistema desportivo federativo está integrado essencialmente por quatro elementos básicos:

Os Praticantes
Os Responsáveis
As Actividades
Os Equipamentos

Queremos naturalmente dizer, os praticantes, as instalações em que o fazem, os responsáveis pela direcção, organização e controle dos equipamentos e práticas e as actividades propriamente ditas, como confluência destes elementos.
Queremos fazer afinal uma pequena reflexão na base da análise destes quatro elementos e não pretendendo esgotar o tema, talvez nem sejamos capazes, procuraremos lançar elementos que possam contribuir para essa discussão necessária.
Os Praticantes
É evidente para todos que andamos na modalidade há muitos anos que o grupo de escolha do Seleccionador Nacional não é grande e que as suas opções, particularmente para algumas posições específicas são curtas.
A Selecção Nacional é única, não existe trabalho para baixo e os Interassociações masculinos federativos ninguém sabe para que servem, se calhar nem a FPF. Já nem falo dos femininos onde como se sabe foi encerrada a Selecção Nacional respectiva por falta de competições internacionais (ou para dar um jeito à Selecção Nacional de Futebol Feminino?).
Até porque no momento em que se inicia a primeira competição internacional de Sub-21 anos, Portugal prima pela ausência (afinal aqui há competição internacional e não há Selecção…).
No escalão logo abaixo, os juniores, o nível nacional é baixo e assiste-se a competições distritais desequilibradas de goleada em goleada em quadros competitivos desajustados, mas deles falaremos mais á frente.
O trabalho nos clubes com honrosas excepções não existe com a qualidade e quantidade necessárias, já que uma boa parte das equipas deste escalão ainda estão nas duas unidades de treino semanais. Como depois alguns clubes (poucos) já treinam quatro, dão-se as diferenças competitivas e a diferença na evolução dos jogadores, colocando problemas quando têm que subir a seniores e não têm nem o ritmo de rendimento, nem o necessário conhecimento do jogo.
Como não existe qualquer projecto de detecção e orientação de jovens talentos na federação, nem de aperfeiçoamento distrital ou regional por iniciativa federativa ou associativa os jovens vão aparecendo por geração espontânea ou a escolha dos melhores valores para a Selecção Nacional apenas poderá fazer-se a partir de um número ainda mais restrito de jovens de clubes que trabalham bem nesses escalões.
Ou seja ou possibilitamos pelo menos o aparecimento da Selecção Nacional Sub-21 anos com um trabalho regional abrangente de detecção e orientação dos melhores valores ou o leque de opções ainda vai afunilar mais!
A não ser, já me esquecia dessa opção, que passemos a naturalizar ainda mais brasileiros…

Os Responsáveis
Bem responsáveis somos todos nós, porque deveríamos trabalhar melhor e porque não devíamos permitir que as coisas chegassem onde estão a chegar…
Nas associações distritais somos apenas tolerados, porque vamos crescendo ano após ano e em algumas até já temos mais clubes e jogadores que o futebol, mas o processo de osmose, de verdadeira aceitação não existe.
Melhor aqui, pior ali, as coisas vão acontecendo tendo em conta o “peso” que temos individualmente nas estruturas.
Muitos do primo futebol se foram encostando no futsal e em boa parte hoje os dirigentes do futebol distrital são os dirigentes do futsal. O futsal perdeu da sua gente nos centros de decisão e é o futebol que determina a evolução distrital do futsal. Na federação também o é já agora…
Os dirigentes que temos nos clubes principalmente nos mais fortes ainda não perceberam que mais importante que andarem apenas a defender o seu quintal têm que defender o todo que é a modalidade. Um dia não há quintal para ninguém…
Os treinadores vão sendo aqueles – num grupo restrito é verdade – que ainda procuram melhorar mas o seu processo de formação está hoje ultrapassado e os numerosos cursos de formação de treinadores, principalmente no seu primeiro nível, vêm-se transformando apenas num recurso financeiro das associações distritais.
O próprio núcleo de formadores a que pertenço perdeu dinâmica e capacidade de autocrítica para transformar e inovar!
A federação vai cerceando senão o crescimento (porque é incontrolável) mas sim o desenvolvimento… Cresçam mas não abusem!
Cresce o número de praticantes, mas não melhoram os quadros competitivos; não há trabalho de Selecções nacionais Jovens ou pelo menos de trabalho abrangente inter-regional; a estrutura técnica federativa é diminuta, veja-se que o Seleccionador Nacional este ano esteve em três mundiais quando provavelmente deveria estar a preparar e a concentrar-se no objectivo principal…
As Actividades
Os quadros competitivos nacionais são o que se conhece… A festa do futsal, A Taça de Portugal em Final Four terminou, mais uma futebolização da modalidade… Ninguém do futsal estava de acordo mas terminou porque a federação e as associações distritais assim o quiseram…
Nos escalões de formação existem Taças Nacionais em Juniores, Juvenis e Femininos, nem sequer somos dignos de ter campeonatos nacionais. Ter campeonatos nacionais não significa ter quadros competitivos longos e à semelhança do futebol, antes significa dar primeiro dignidade aos quadros competitivos e depois encontrar a melhor fórmula que passará sempre em minha opinião por um quadro competitivo com os campeões distritais em cada ano.
Nas competições distritais e principalmente nas maiores associações onde existem mais clubes e atletas, muitas vezes não é campeão a melhor equipa (não no sentido desportivo claro porque nem sempre ganham os melhores) apenas porque poderá não poder sequer disputar a competição principal.
A organização dos quadros competitivos da formação em divisões impossibilita que uma equipa por muito valor que tenha nesse ano não possa ser campeã distrital da sua categoria. Basta que um clube suba de divisão numa época com um grupo de jogadores e que esses jogadores subam de escalão para que na época seguinte essa equipa já não exista…
A organização dos quadros competitivos distritais para os escalões de formação tem que fazer-se sempre em divisão única por series, por fases, como entenderem, mas possibilitando o aparecimento de novas equipas com qualidade. O princípio da organização dos quadros competitivos seniores não é aplicável à formação!
Quanto aos Inter-associações, eles aparecem como momentos únicos da época e de verdade ninguém sabe para que servem… No feminino não servem mesmo para nada a não ser como detecção de jogadoras para a Selecção nacional de Futebol.
Nos masculinos vem-se afirmando que é para a escolha da futura Selecção de Sub-21 anos mas o que é verdade é que a FPF vem adiando ano após ano a sua concretização.
Entre o trabalho dos clubes e o trabalho de uma eventual Selecção Nacional temos que encontrar momentos abrangentes de aperfeiçoamento e detecção de jovens talentos no plano distrital e regional com uma intervenção diferente da equipa técnica federativa.
Os próprios Inter-associações têm que tornar-se para serem úteis momentos também de verdadeira formação dos treinadores dessas associações distritais e de troca de experiências técnicas concretas e não apenas de conversas…
Os Equipamentos
Felizmente que a generalidade das Câmaras Municipais deste País têm vindo a construir instalações desportivas que vêm beneficiando a modalidade há alguns anos. Sem este factor não teríamos crescido o que crescemos. Com lacunas ainda por suprir é verdade mas claramente este é o elemento do sistema desportivo mais desenvolvido, talvez porque beneficiamos de terceiros, menos da nossa própria estrutura.
Trabalhar no futsal com paixão, mas com profissionalismo (mesmo que de borla) e seriedade; defendermos os claros interesses da modalidade e reflectirmos sobre os caminhos que temos que percorrer para ainda sermos mais fortes é urgente!
Desculpem lá estes desabafos… Afinal senão fizermos nada disto podemos afirmar na mesma daqui a 4 anos que o objectivo é sermos campeões do mundo… Também milagres sempre podem acontecer!